quinta-feira, 14 de maio de 2015

Eu nasci há dez mil anos

Minhas últimas leituras renderam grandes reflexões. 
Mas acho que a principal é o quanto de vida eu perdi por estar grudada o tempo todo naquele aparelhinho do demo (aquele que costumamos chamar de celular).

É sério. Eu era obcecada por saber sobre a vida de pessoas que nem sabem da minha existência. Ficava fazendo aquela comparação básica e pensando: por que a grama dela é mais verde que a minha? E nisso eu deixava de cuidar do meu jardim, que é o que realmente importa.


Internet é muito prática, isso é fato, mas sinto falta de quando ela não existia.

Daquelas conversas intermináveis ao telefone. De um encontro que era realmente um encontro, pois não tínhamos notificações para checar o tempo todo. A conversa era olho no olho.
Sinto falta de escrever carta. Carta não é a mesma coisa que digitar um e-mail. Ela transmite muito mais emoção. Olha o tanto de tempo que se leva para escrever, a escolha das palavras, o jeito. E-mail é frio. Uma digitadinha aqui, outra ali, e tá pronto. Acho que nasci no tempo errado.

E o tempo da revelação da fotografia? E depois, quando elas estavam nas nossas mãos, descobríamos uma cabeça cortada aqui, alguém que não saiu na foto lá... 

Hoje, a gente tira zilhões de fotos até que uma fique boa, pra podermos postar na hora e o mundo todo poder saber onde estamos, com quem e o que estamos fazendo. E tudo isso pra quê? É o que eu não entendo.

Por isso, eu acho que quem realmente é feliz não tem tempo de parar pra tirar foto e mostrar pra quem quer que seja.

Felicidade não é pra ser compartilhada com qualquer um. Isso eu tenho aprendido a cada dia. Até porque a gente sabe que, por menos que a gente tenha, sempre tem alguém cobiçando a nossa grama. O que nos faz alegre, o que nos contenta, o que nos encanta, a gente guarda pra gente. 

Sem contar que essa exposição desenfreada sem motivo já tá chata. Ou talvez eu tenha virado uma chata, vai saber.

E as personagens dos meus livros preferidos não ficam o tempo todo conectadas; elas vivem. Acho que tá mais do que na hora de seguir o exemplo.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Embriagai-vos!

É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas – de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
– É a hora da embriaguez! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embragai-vos sem cessar!
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Vem cá, menina

Vem cá, menina. Vamos conversar.
Quero saber por que andas com esses olhos tão tristes. Olhos que outrora possuíam um brilho, uma vivacidade e um fervor lindos de se ver. Teu olhar contagiava, menina. Juntamente com teu sorriso. Ah, teu sorriso! Esse bastava para iluminar qualquer ambiente. Quando tu chegavas, toda e qualquer tristeza era posta de lado.
Já sei. Brigaste com o namorado. Só pode ser isso. Pois não te apega, menina. És tão jovem e bela para se entregar a tamanho sofrimento. Deixa isso para o futuro. Posso te contar um segredo? Existem coisas que não valem nossa dor. Não valem uma noite perdida e muito menos lágrimas derramadas. Isso é perda de tempo, menina. Tens uma vida inteira de descobertas, não há motivos para se prender a algo que já passou.
Porque tem coisas na vida que passam. Elas acontecem, fazem sofrer, vão embora e deixam ensinamentos pra toda eternidade. E a superação desse sofrimento se chama amadurecimento.
Sofre agora, menina. Derrama todas as lágrimas, desfaz esse nó da garganta. Quando tiveres enfim superado, vais perceber quão boba foste, e vais entender que existem sofrimentos maiores do que a perda de um amor.
E sabes por que eu sei de tudo isso? Porque já sofri por ti.

Agora, vem cá...

domingo, 11 de janeiro de 2015

Palavras para uma amiga triste

Ei, garota! Sai desse casulo e vem ver o mundo lindo que tá esperando pra ser explorado.
Coloca um sorriso nesse rosto, não deixa a tristeza tomar conta. A vida é muito curta pra ser desperdiçada.
Aprende que a única pessoa que pode te fazer feliz por completo é tu. Aprende a ser sozinha. Aprende a curtir a própria companhia. Aprende.
Entende que as pessoas a tua volta devem complementar tua alegria, e não ser o motivo dela.
Entende que o amor-próprio é o mais completo que existe e o único que não vai te deixar na mão.
Aprende a gostar de ti. Te aceita como é. Com todas as qualidades e principalmente os defeitos.
Passa mais tempo contigo. Faz aquilo que gosta na hora que bem entender. Se não quiser fazer nada, não faz! A melhor parte de sermos donos de nós mesmos é essa. Essa é a melhor parte de não dependermos de ninguém.
Vive um dia por vez. Não pensa no futuro nem no passado. Não pensa. Vive inteiramente o agora. Te coloca em primeiro lugar na tua vida. Aprende a te conhecer.
Quando souber viver assim, pra ti, não vai ser qualquer coisa que vai te fazer feliz, nem qualquer coisa que vai te deixar triste.
Ter um amor é muito bom. Mas, depois que tu aprende a viver pra ti, ter um amor é muito melhor. Já pensou viver um amor sem insegurança, cobrança e ciúme? Um amor tranquilo, cúmplice, parceiro. Um amor divertido, leve, inteiro. Um amor que não vai te completar, vai somar. Um amor puro, genuíno. Já pensou?

Te desprende dessa tristeza, te desapega de tudo que te faz mal. Sai desse casulo, pois o mundo te espera. Ele tem muita vida pra te mostrar. Vem!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Ontem

Ontem, pela primeira vez em dias, ela não pensou em você antes de dormir, e, ao fazer isso, desfrutou de um sono leve, tranqüilo e sereno. Não que você trouxesse pesadelo e tormenta às noites dela, mas a ansiedade que ela sentia quando pensava em você a consumia. Foi libertador não lembrar os bons momentos nem imaginar quais seriam seus próximos passos. Os próximos passos dos dois. Imaginar como seria te encontrar de novo, sentir teu cheiro, tua pele, teu beijo. Te sentir por completo. Sentir que são um. Dividir com você não apenas a cama, mas a vida. Compartilhar histórias. Criar novas experiências. Traçar novos caminhos. Viver a plenitude de um amor sincero, paciente e generoso.
O problema é que você tem medo disso; medo da felicidade. Quando ela chega perto, você dá um jeito de se afastar. Não consegue se entregar por inteiro a ela. Não consegue porque ainda está preso ao sofrimento que o passado causou. Essa prisão não deixa você abrir as portas para novos sentimentos, ainda que você se esforce pra isso.
Amarrado ao passado, não consegue perceber que o amor que oferece é incompleto, vazio e egoísta. Olhando para o próprio umbigo apenas, não enxerga quem está ao seu lado se esforçando pra fazer você feliz. Preocupado com os próprios sentimentos, não vê que está magoando outros corações.
E o mais triste disso é saber que você não tem coragem suficiente para aceitar essa felicidade que está na sua porta. Pedindo, implorando pra entrar. Essa felicidade que só quer uma chance. Uma chance pra mostrar que ela não é como você pensa; como aquele passado que tanto te fez sofrer. 
Não demore, pois ela não vai esperar por você a vida toda.
 Existe um mundo enorme e centenas de milhares de pessoas dispostas a oferecer aquilo que você dá pela metade.
Não espere perder. Quando você se der conta, pode ser tarde demais. 
Ontem, pela primeira vez em dias, ela não pensou em você antes de dormir. E esse foi só o começo...